Mensagem bíblica (At 9,1-20)
“Perante Deus qualquer gigante tomba”, diz o verso de uma canção que se popularizou em nosso meio. Assim era Saulo: um gigante no combate à “seita” dos seguidores de um certo Cristo, os quais ele combatia até a prisão e cuja morte aprovava. Nos dias anteriores foi narrada a morte sangrenta do diácono Estêvão, cujas vestes foram depositadas aos seus pés, para atestar que o mandato foi realmente executado. De repente, enquanto ele se dirigia a Damasco para uma nova arremetida contra os cristãos, aconteceu o imprevisto. Caiu por terra, ficou temporariamente cego e ouviu uma voz que se identificou como Jesus, a quem ele perseguia. Levaram-no para Damasco e foi procurado por Ananias, a quem o Senhor falou: “Este homem é um instrumento que escolhi para anunciar o meu nome aos pagãos”. O perseguidor levantou-se, foi batizado, passou alguns dias com os discípulos da cidade e logo começou a pregar o Cristo nas sinagogas.
O que há por trás deste fenômeno quase inacreditável de uma conversão instantânea de alguém que vivia perseguindo os cristãos? Como é possível passar, de maneira brusca, de uma condição de inimigo da fé à de apaixonado anunciador de Jesus Ressuscitado?
A resposta simples e, ao mesmo tempo, profunda, nos remete ao início da nossa reflexão: não há quem possa resistir ao poder de Deus. Muitas vezes, sobretudo na ótica dos incrédulos, a história faz de tudo para provar o contrário. Neste sentido, o fato mais marcante é, sem dúvida, a morte daquele que se dizia Filho de Deus. Se, de fato, era Deus, triunfaria sobre seus opositores e a própria morte. Aquele Jesus, entretanto, depois de ter vindo ao mundo desprovido de todo e qualquer poder, sucumbiu clamorosamente diante de ambos. Assim também pensava Saulo.
Porém, se ele estivesse morto, como poderia falar-lhe de modo tão sensível e envolvente? Ademais, identificando-se com seus seguidores que o proclamavam ressuscitado, certamente havia vencido seus opositores e feito triunfar a vida para além da morte. A ressurreição era um fato, não uma bazófia. A partir de então, aquele outrora perseguidor haveria de dar seu sangue e toda a sua energia para proclamar a vitória da fé e da vida nova do Cristo Ressuscitado, que se comunica a todos os que vivem da fé. Deus seja louvado por tão grande prodígio.
Mensagem evangélica (Jo 6,52-59)
O racionalismo não favorece a fé. Quando pretendemos explicações para aceitar a verdade que nos é anunciada, é sinal de que confiamos mais em nós mesmos do que no amor de Deus, que se realiza através de atos concretos e, sobretudo, da doação de seu Cristo.
É exatamente esta a verdade que o Senhor nos comunica hoje. Ele se faz pão para ser o nosso alimento da vida eterna. Em outras palavras, é Ele mesmo o sustento e a força de que todos precisamos para a caminhada nesta terra, que culmina na eternidade. Jesus se doa totalmente. Além de seu espírito, dá-nos a sua carne e o seu sangue como alimento da vida eterna.
Entendemos que as palavras de Jesus fogem de nossa lógica humana. É verdade que, em condições normais, ninguém dá a sua própria carne para ser comida e nem o seu sangue para ser bebida. Os interlocutores do Mestre, habituados a submeter tudo ao seu próprio raciocínio, ficaram perturbados e se perguntaram: “afinal, o que pretende este homem? Aonde quer chegar? Não somos canibais e nem vampiros”. No final desse discurso, os próprios apóstolos e discípulos de Jesus procurarão afastar-se dele, afirmando que sua palavra é muito dura e pesada.
A fé é dom de Deus (Cf. CIC 153). Não contraria nossa liberdade e inteligência (Cf. CIC 154-155). Deus nos convida a uma vida de comunhão com Ele, e nossa resposta é a fé, pela qual nós submetemos nossa inteligência e vontade ao Pai Celeste (Cf. CIC 142-143). A fé está acima de nosso conhecimento, pois se fundamenta na própria Palavra de Deus e no seu plano de amor para conosco. A fé só pode gerar para nós o bem, a alegria, a felicidade (Cf. CIC 157-158).